O que dá o verdadeiro sentido ao encontro é a busca, e é preciso andar muito para se alcançar o que está perto.
José Saramago
O aprendizado da Psicanálise é organizado segundo um tripé composto pelo estudo teórico, pela psicoterapia pessoal e pela supervisão da prática clínica. Esses três eixos são indissociáveis um do outro, sendo que a supervisão é o representante mais claro dessa articulação.
Seja no campo da psicoterapia ou do psicodiagnóstico, o domínio teórico e a competência técnica, quando encontram a singularidade do paciente no cotidiano da prática clínica, são usualmente revistos em seu significado. Nessa tensão entre ciência e profissão, não é incomum que aquilo que foi aprendido em teoria precise ser ajustado, reexaminado ou mesmo desconstruído, ganhando novas compreensões e sentidos à luz da experiência única vivida com o paciente, e também das mudanças históricas, sociais e culturais.
Por isso a relação entre teoria e prática na Psicanálise é dialética, ambas constituindo um único processo de construção mútua e contínua. Assim, os lugares de produção e de aplicação do conhecimento são os mesmos, com a teoria aparecendo na clínica de modo difuso, espontâneo, não havendo pontos de partida ou de chegada pré-definidos.
A supervisão clínica faz parte desse processo, visto que o seu foco é a compreensão, nessa relação dinâmica, da singularidade do paciente sob o prisma de um esquema teórico. O supervisor assume o papel de alguém que favorece o pensar e a aproximação afetiva do supervisionado com o seu paciente, a partir do encontro que aconteceu entre os dois e que lhe é narrado.
A atividade de supervisão consiste em debruçar-se não apenas sobre as emoções e os sentimentos do paciente, mas também sobre aqueles do psicólogo. Nesse universo, igualmente importante é a compreensão de como se estabelece a relação entre o supervisor e o supervisionado, porque esse vínculo muitas vezes expressa um processo paralelo àquele entre o psicólogo e o paciente.
Essa correspondência reflete uma situação inconsciente em que o supervisionado reproduz, diante do supervisor, os problemas e os sintomas do seu paciente, com o propósito de levar o supervisor a demonstrar como lidaria com essas situações. Por essa razão, o supervisor precisa estar atento às suas atitudes em relação ao supervisionado, que podem simplesmente ser reflexos da postura deste para com o paciente. Nessa perspectiva, fenômenos como a transferência, a contratransferência, a compulsão à repetição, entre outros, também estariam presentes na situação de supervisão, mostrando os elos de ligação existentes entre ela e a psicoterapia pessoal do psicólogo.*
É nesse cenário que a atividade da supervisão promove uma aprendizagem que é particular e muito diferente daquela relativa ao domínio teórico ou técnico. Trata-se de um conhecimento fundado na compreensão dos afetos próprios e os do paciente, o que promove uma expansão do mundo mental do psicólogo. Com isso, o profissional se enriquece não apenas no âmbito da sua prática clínica, mas por inteiro, podendo, a partir daí, criar condições para construir o seu estilo profissional de uma forma criativa.
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*Berant, E; Saroff, A.; Reicher-Atir, R.; Zim, S. (2005). Supervising Personality Assessment: the integration of intersubjective and psychodynamic elements in the supervisory process. Journal of Personality Assessment, vol.84, nº2, p. 205-212.
Encontro de dois
Olho no olho.
Cara a cara.
E quando estiveres perto
eu arrancarei
os seus olhos
e os colocarei no lugar dos meus.
E tu arrancará
os meus olhos
e os colocará no lugar dos teus.
Então eu te olharei com teus olhos
e tu me olharás com os meus.
Jacob Levy Moreno